Sim-ceridade

 

 

Não posso, não, não posso fazer mais nada, paro por aqui.

Trago comigo o acúmulo de centenas de gestos que me provam o contrário do que dizes, delatando-se sem ao menos perceber.

Não sou cego, tenho a minha convicção. Já tentei muda-la, adapta-la; sinto-me contente por não ter conseguido. Guio-me incessantemente por esta a que refiro.

Há pouco pensava no que estava pensando, e realmente, por mais que eu pense no que podes estar a pensar, pensarei, pensarei e chegarei a nenhum lugar. Pensar já não é assim tão eficaz.

A saída de emergência - que infelizmente não é tida como principal -, tem pendurada em seu topo uma placa com a prezada e flamejada Sinceridade. Corra para ela quanto tudo estiver em chamas! Provavelmente não encontrará nessa porta o doce abrigo a que procuras, mas certamente esbarrará no imensurável conforto de ter a consciência limpa.

Tais conversas sinceras aparentam não mais existir. O teatro em que somos moldados por toda a vida toma o controle. Por vezes lutamos para escapar e fugir para trás das cortinas, para tirar a mascara e não dar ao sedento público o show que a espera, mas é difícil. Lutar contra a pseudocultura seguida por todos é no mínimo desafiador.

Desafiemo-nos de antemão!  Roubemos as rédeas que por direito são nossas para começarmos a reconstrução. Joguemos limpo com o tão surrado coração.

 

Willian Sampaio